O RIO DOURADO ESMAECE, PERDE O BRILHO, GANHA A TONALIDADE OURO ANTIGO, INEXORÁVEL DESTINO…

Morreu hoje Elsa de Oliveira, mulher de Mariozinho de Oliveira, fundador do legendário Clube dos Cafajestes, junto a outros nomes da icônica dolce vita carioca dos anos 40/50, como o saudoso Carlinhos Niemeyer.

O corpo de Elsa será cremado amanhã às 14 horas.

São páginas emblemáticas da Sociedade Brasileira, que vão sendo viradas e arquivadas, passando a cumprir seu destino de ser apenas memória.

Meses atrás, quem partiu foi a Marina de Vincenzi, viúva de outro membro histórico dos “Cafajestes”, o elegante Paulo de Vincenzi.

Em dezembro, a nossa chamada Alta Sociedade chorou discretamente outra muito sentida perda: a de Vera “Vallin” Vasconcelos. La grande dame da Iposeira.

Vera recebia para almoços concorridos na casa da Rua Iposeira, no Joá. Inicialmente com o marido, o almirante Vallin Vasconcelos, e sempre com grande alegria. Depois, com a morte dele, Vera continuou a receber para seus almoços os mesmos casais amigos, no terraço da casa, com buganvílias e árvores que ela costumava “florir” com seus artesanatos. Não raro encontrávamos pássaros de papier mâché encarapitados nos galhos, ou pássaros de madeira pintados, ou flores de papel crepom “brotando”, tudo tão original, tão Vera!

Os almoços em casa dela tinham @TrademarkbyVera. Isto é: marca registrada da Vera.

Os pratos eram pintados à mão por ela, assim como podiam ser os jogos americanos ou os guardanapos. Os descansos dos pratos à mesa podiam ser alguma criação sua. Assim como as moringas, algum artesanato do Vale do Jequitinhonha. Ela inventava e criava e deitava e rolava, nas suas mesas do buffet, nos centros das mesas, nos arranjos floridos. Tudo com grande criatividade.

Cada almoço seu, uma surpresa, uma novidade, uma atenção, um carinho. Um esforço, uma energia dela imprimida ali para nos deliciar.

E todos ficavam encantados por perceber a vocação da grande anfitriã. Pois receber com o coração é isso: se colocar, se revelar no que está oferecendo. E não apenas estalar os dedos, contratar um bufê e fiat lux! Assim não tem graça.

Vera “Vallin” – pois assim a chamávamos, incorporando o prenome do marido ao nome dela, como se fosse um sobrenome –  colocava graça em tudo.

E graça  também ao fazer e contar piadas. A casa de Vera ‘Vallin” era a central oficial de anedotas do Rio. Visitá-la era a certeza de sair com o acervo de anedotário renovado pelo ano inteiro. Piadas impagáveis, refinadas, de salão e também das picantes. Vera era moderna.

Depois, chegou à sofisticação de imprimir folhetos com suas piadas prediletas e distribuí-los em capítulos aos amigos de fé, aqueles casais que gostavam de rir com ela. Nós tivemos a sorte de ser um deles.

Vera recolheu-se há algum tempo, pouco tempo. Para nós foi um tempão. Com o amor e a afetividade dos filhos a cercá-la na mesma casa da Iposeira.

Agora, está recolhida por todo o tempo. Mas seus caderninhos de anedotas continuam conosco, como uma espécie de cadernos de consulta noturnos, para rirmos juntos, o casal, e, a cada gargalhada, lembrarmos da Vera, a “Vallin”. Aquela que sabia receber com criatividade.

O Rio dourado esmaece, perde seu brilho, ganha a tonalidade ouro antigo dos objetos vintage. Destino inexorável.

22 ideias sobre “O RIO DOURADO ESMAECE, PERDE O BRILHO, GANHA A TONALIDADE OURO ANTIGO, INEXORÁVEL DESTINO…

  1. Pelo que vejo,todos sentem falta dos fabulosos “Anos Dourados” e seus representantes.Então, pensa no pedido que te fiz, de relembrar aqui,com seus arquivos poderosos, esta época de Festas fabulosas, de elegância charme e chic….Tenho certeza que todos adorarão a viagem…BJão..

  2. Parabens!!!!! Pela homenagem da Elzinha
    Não irei porque não me sinto forte suficiente pois ainda tem pouco tempo que a mamãe nos deixou.
    Bom domingo
    Bjs

  3. Saudades, sim, saudades de um Rio que já se foi, onde pontificavam verdadeiros representantes da classe, da época das Teresas, Lourdes, Guinles,
    Jordans, Lacerda Soares e outras personalidades que se destacavam pela educação, charme, requinte natural!. Hoje predominam os “enriquecidos”, made in Miami, prepotentes e exibidos! Saudades do Ibrahim, do Jacinto! O que se há de fazer? Tudo passa, tudo passará! Mas que nada continua como antes é vero…

    • Tudo passa, sim, mas tudo também se transforma. Sobrevive feliz quem se adapta e tem a capacidade de se transformar junto. Vamos fazer o esforço, Malu. Acho que a vida vale. Não vale?

  4. Tenho 60 anos. Ate os ditos “cafajestes” daquela era, tinham mais honra e dignidade do que certos “Ascensoristas Atuais”…Que nada mais sabem ser do que maquinas de dinheiro, para as ditas “esposas” , ou trophy wives (SIC) ,gastarem sem cessar absoluto, tentando ganhar paginas sociais.Estava na Cote D’Azur quando foi veiculado que um certo dinheiro novo, gastou 3 milhoes de Euros numa noite……B.S…Tudo maquinado e, maquiado para mais propaganda, com intuito de “elevacao social” A conta foi de 30 mil Euros….Enquanto o “ze povinho” chora e, amarga com as enchentes brasileiras….E patetica a situacao dos novos ricos no Brasil. Importam os mais despreziveis exemplos americanos. Vulgaridade total.Pobre. Meanwhile…as I have mentioned before, bye bye to CULTURE.VERGONHA. Acho que deveriam voltar a escola – SEGUNDO GRAU, SOCORRO – e estudarem o que foi a Queda da Bastille!Bjs.

      • Penso serem entusiasmados por terem a dinamica de uma revolta total em relacao ao que se passa por esta nova “casta” de dinheiro novo que faz-se pasar por “sociedade” hoje em dia.Bjs e uma excelente semana.Tem idea quando seu livro sera lancado? Bjs sempre. Tatiana

  5. Saudades eternas da querida Elsa, com seu alto astral e alegria de viver! Linda de alma e de uma beleza física que lhe acompanhou até o fim!

  6. Hildegard, obrigado por seu texto lindo! Aqui em São Paulo lembro histórias de minha avó e de suas amigas, de um tempo que também desapareceu na correria dos facebook e Instagram de nossos dias. Mais do que saudades de um Tempo Dourado do Rio (lindo sempre) …saudades de um tempo de calor humano e proximidade!
    Bj

  7. Triste mesmo, Hilde. Mais triste e depressivo ainda e, ver-se hoje em dia, pseudo representantes da sociedade “nata” sendo dominados somente pela ganancia e dinheiro. Berco (crib)? Nenhum. Um consumismo desenfreado, uma desigualdade social cada vez maior e a vulgaridade de tanto esbanjamento de dinheiro. Saudades do tempo de Elizinha M. Salles, Lourdes e Carmen.Anos dourados que nao mais voltarao pois, estas ditas representantes atuais, parecem-se mais com a ascencao da tal familia KARTRASHIAN….cultura tambem nao tem. With few exceptions from some old families.Bjs. Tatiana.

    P.S Se achar que meu texto e forte, entenderei que nao querera publica-lo.

  8. Elsa foi uma querida de voz suave !!
    Deixa uma cadeira vazia na academia da amabilidade.
    Assim como ela, Marina e Paulo de Vicenci também deixaram espaços que jamais serão preenchidos; seus memoráveis almoços e jantares muito bem harmonizados, servidos e acompanhados dos melhores vinhos cuidadosamente escolhidos pelo Paulo. Recebiam como príncipes, tudo era orquestrado por eles e sua colaboradora Maria, que também já partiu.
    Desejo que todos se encontrem no céu para relembrarem dos bons momentos aqui na terra.
    Meus pêsames aos familiares e amigos.

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