O GOLPE QUE JOÃO GOULART NÃO QUIS DAR

O colunista da Folha de São Paulo, Jânio de Freitas, em mais um de seus brilhantes artigos, discorreu sobre João Goulart. Recomendo a leitura. Jango em Brasília

Teve como resposta uma carta do janguista histórico professor Moniz Bandeira, cientista político e historiador. A carta agora circula, via email, em meio a um grupo de admiradores do ex-Presidente da República. Pelo muito que ela contém de importantes e esclarecedoras revelações sobre os bastidores do golpe que Goulart não quis dar, penso que deve ser transcrita aqui. Vamos lê-la:

“Prezado Jânio de Freitas,

teu artigo sobre Jango muito me comoveu. Estou plenamente solidário com o que escreveste. Minhas congratulações.

Jango foi um grande presidente, que, em meio à turbulência, não traiu a democracia, apesar de que  o general Amaury Kruel e outros chefes, impacientes com as crises do parlamentarismo lhe recomendassem dar um golpe de Estado. Também não aceitou a mesma sugestão de Brizola nem o ultimatum do general Kruel, que condicionou o apoio do II Exército ao governo, em face do levante de Minas Gerais, se ele fechasse o cgt, une e outras organizações populares, interviesse nos sindicatos e afastasse dos auxiliares­ do presidente da República apontados como comunistas. ao perceber o tom de ultimatum, passou a tratar Kruel cerimoniosamente, dizen­do-lhe com rispidez: “General, eu não abandono os meus amigos. Se essas são as suas condições, eu não as examino. Prefiro ficar com as minhas origens. O senhor que fique com as suas convicções. Ponha as tropas na rua e traia abertamen­te”. Goulart era um homem forte. Se fosse fraco, teria permanecido no poder como o presidente Arturo Frondizi, na Argentina, que capitulou e mesmo assim, desmoralizado, foi posteriormente deposto pelos militares.

Mas Goulart soube pelo professor Francisco Santiago Dantas que Afonso Arinos de Melo, nomeado ministro pelo governador Magalhães Pinto, lhe informara que Washington apoiava a su­blevação e que não só reconheceria a beligerância de Minas Gerais como interviria militarmente no Brasil, em caso de guerra civi1. Jango  refletiu sobre a gravidade e as conseqüências da situação, que acarretaria a intervenção norte-americana e a seces­são do Brasil, com a internacionalização do conflito.  Essa informação, confirmada pelos comandantes do I Exército, influiu sobre sua decisão ao verificar que não tinha condições de resistir.

A mim, em Mandonaldo, Jango disse: “Seria uma sangueira”. Seus adversários conspiraram com uma potência estrangeira para derrubar o governo legalmente constituído no Brasil. Goulart, porém, não sacrificaria sua pátria.

Cordial abraço, Moniz Bandeira”

 

7 ideias sobre “O GOLPE QUE JOÃO GOULART NÃO QUIS DAR

  1. Com certeza Jango n imaginava q os militares se perpetuariam por tanto tempo no poder, pois a intervenção de uma junta seria apenas para restabelecer a ordem e convocar novas eleições. Quem estava mais atento era Brizola. Seria bem interessante uma resistência organizada desde o sul partindo para cima da elite paulista e carioca. No entanto, talvez ele estivesse certo, pois numa guerra civil morrem sempre mais inocentes do q os q realmente mereceriam.

  2. Curioso é que ainda há brasileiros que lamentam a prisão dos mensaleiros criminosos. Se as sentenças tivessem sido exaradas por um juiz de exceção, tudo bem,mas não foi o caso. Vivemos numa democracia desde 1985. Elas foram produto de sessões e mais sessões do Supremo Tribunal Federal, a mais alta Corte do País, a Suprema Corte. Não há o que contestar. Resta aos sentenciados o cumprimento das penas. E resta a seus seguidores a compreensão histórica do momento. Vivemos no Estado Democrático de Direito.

  3. Muitos dizem que Jango deveria ter resistido e evitando, quiça, a ditadura militar com apoio civil, que se seguiu. Mas naquele momento, penso que Jango jamais imaginou o que se seguiria do horror que foi aquele periodo.

  4. Estupenda leitura. Mas por que os militares quereriam ssassinar Lacerda se ele era UDENISTA?Pls refresh my Brazilian history memory.(Shame om me).Abracos.Tat

    • Porque Lacerda revoltou-se contra os militares, quando percebeu que a intenção deles era perpetuarem-se no poder e não lhe abrirem os caminhos para a ambicionada Presidência da República, à qual, num confronto com JK nas urnas, ele jamais chegaria. Lacerda foi cassado. Posteriormente, uniu-se ao “inimigo histórico”, JK, quando criaram a Frente Ampla. Tornou-se persona non grata dos “milicos”, assim como já era Juscelino. Com o projeto da “Abertura”, o que se supõe é que se pretendia “limpar o terreno”, eliminando, antes de empreendê-la, as lideranças políticas do passado (Jango, JK, Lacerda e outras figuras incômodas, como Zuzu Angel), que retomariam seu protagonismo político nacional.

  5. Se havia oportunidade de uma guerra civil, com direito “a intervenção norte-americana e a seces­são do Brasil”, então João Goulart desperdiçou uma grande oportunidade de ajudar esse país a lutar suas guerras.. com base nesse e em outros momentos da nossa história, hoje refletimos esse jeitinho brasileiro de contemporizar situações.. e chegamos onde chegamos.. um povo preguiçoso, leniente, incapaz de lutar por seus ideais.. ser de esquerda no Brasil é lutar contra o marasmo, é assistir impotente o povo ser massacrado diariamente e ainda lamber as botas de seus opressores, é ver um homem como Genoíno ir para a cadeia e não fazer nada.. viramos uma nação de bundões..

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